O levantamento do Serviço de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência Sexual (SAMVVIS) revela que até junho deste ano foram registrados 201 atendimentos no Piauí.
Pelo menos uma mulher é violentada por dia no Piauí. |
Em 2011, foram 341 casos. Os números parecem altos se imaginarmos que, todos os dias, pelo menos uma mulher, seja ela criança, adulta ou já idosa, sofre violência sexual.
A realidade é ainda mais assustadora quando consideramos que os dados oficiais não abrangem a quantidade de vítimas que deixam de buscar atendimento.
Eles também não revelam quantas delas são estupradas pelos próprios maridos ou namorados. Sim, exigir o ato sexual de uma mulher, mesmo que ela seja a companheira, também é considerado estupro.
Mais que um crime contra a mulher, o estupro comprova da forma mais brutal que o sexo feminino ainda é tratado pela nossa sociedade como objeto. Quando falamos de violência sexual, na verdade, estamos tratando da submissão da mulher em relação ao desejo do homem.
Como se isso não bastasse, a vítima ainda é submetida aos mais diversos tipos de constrangimento, desde a denúncia na delegacia até a aplicação da pena para o acusado.
Um estudo realizado em Alagoas analisou 15 sentenças criminais decretadas por juízes e concluiu que as vítimas de estupro sofrem discriminação.
Segundo o levantamento, em 100% dos casos o magistrado fazia referência expressa ao comportamento da vítima na sentença. Dessa forma, mulheres consideradas “honestas” eram mais respeitadas e o crime era tido como muito mais brutal. É como se garotas de programa, por exemplo, provocassem a agressão e, portanto, o seu depoimento não merecesse credibilidade.
Esse sentimento de culpa, segundo a psicóloga Denisdéia Sotero, aflige as vítimas, fazendo-as permanecer em silêncio. “Geralmente ela tem medo de não ser compreendida, de ser desacreditada ou de ser acusada de agir de modo provocador e de ter estimulado o abuso, ou ainda de ser responsável pelo ato”, destaca a psicóloga.
Outro constrangimento imposto às vítimas durante o julgamento dos crimes de estupro é a obrigatoriedade delas comprovarem ter sofrido a agressão, geralmente com exame de conjunção carnal, exigido em 80% dos casos, sendo que em 60% das vezes ele não é suficiente para atestar a violência.
Por outro lado, o exame psicólogico só foi solicitado em 20% dos processos.
A pesquisa revelou ainda que, em 50% dos casos, os crimes de estupro são punidos com a pena mínima, de seis a nove anos de prisão, e que 73% das vítimas tinham alguma relação anterior com o agressor.
Marcha alerta que estupro não é culpa da mulher.
No dia 29 de junho, as ruas de Teresina vão receber a I Marcha das Vadias, que levanta o debate contra a discriminação da mulher e a culpabilização das vítimas pelo estupro, entre outros temas.
A mobilização das mulheres começou no Canadá, em 2011, após um policial afirmar que elas deveriam parar de se vestir como vadias para não serem estupradas.
Desde então, a marcha organizada por mulheres já aconteceu em diversos países e agora chega à capital piauiense. A concentração será a partir das 15h, na avenida Frei Serafim e se encerra na Praça da Liberdade.
Fonte: Nayara Felizardo
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