Relatório preparado pela organização
de controle do tabagismo Campanha Crianças Livres do Tabaco (CTFK)
lançado nesta terça-feira, 02, no Brasil, mostra que cigarros estão mais
viciantes e perigosos. Feito a partir da análise de pesquisas
científicas e de documentos fornecidos pela indústria do tabaco, o
trabalho afirma ser mais fácil tornar-se dependente de cigarro do que de
cocaína e de heroína.
A mudança, afirma o documento, é
resultado de estratégia adotada pelas companhias. Ao longo dos últimos
50 anos, assegura o relatório, os produtos passaram a apresentar um teor
maior de nicotina, tiveram a inclusão em sua fórmula de amônia e
açúcares, que aumentam seu efeito e tornam a fumaça mais fácil de ser
inalada. O próprio formato do cigarro mudou: produtos passaram a trazer
filtros com pequenos orifícios, muitas vezes imperceptíveis, que levam o
fumante a aumentar o volume e a velocidade de aspiração. Alta
engenharia, avalia o relatório, para aumentar a atratividade, facilitar o
consumo e a dependência.
"Nicotina e heroína apresentam
mecanismos semelhantes para o desenvolvimento da dependência", afirmou à
reportagem um dos autores do relatório, o professor da Universidade da
Califórnia David Burns. Ele observou, no entanto, que o número de
experimentadores de cigarro que se tornam dependentes é maior do que os
que entram em contato com a heroína pela primeira vez.
Documentos reunidos no relatório mostram
que os teores de nicotina dos cigarros aumentaram 14,5% entre 1999 e
2011. Substância encontrada naturalmente na planta do tabaco, a
nicotina, quando chega aos pulmões, é absorvida pela corrente sanguínea e
em segundos é transportada para o cérebro. Os sintomas de abstinência
surgem logo nas primeiras horas depois de parar de fumar.
Pesquisadores afirmam no trabalho que a
amônia acrescentada ao tabaco aumenta a velocidade com que a nicotina
chega ao cérebro e a sua absorção, o que torna a sensação de prazer mais
rápida e mais intensa. A amônia também torna a fumaça do cigarro mais
suave, o que facilita a sua inalação pelos pulmões.
Além da maior capacidade de desenvolver
dependência, as mudanças ampliaram o risco de câncer de pulmão. "As
misturas do tabaco e os aditivos tornaram a fumaça do cigarro mais fácil
de ser inalada, aumentando os níveis de nicotina no sangue e no
cérebro. Outros agentes potencializaram o impacto da nicotina, como o
acetaldeído produzido com a queima do açúcar adicionado ao cigarro. Tudo
isso aumenta o risco de dependência", disse Burns.
Ele ressaltou também que, principalmente
nos Estados Unidos, cigarros passaram a ter uma concentração maior de
nitrosaminas específicas do tabaco, uma substância carcinogênica. Essa
última mudança, associada com a adoção de filtros ventilados - que levam
a inalações mais profundas - torna o fumante mais vulnerável e exposto a
substâncias, aumentando o risco de câncer provocado pelo consumo do
cigarro. De acordo com o trabalho, apesar de fumarem menos, tanto homens
quanto mulheres têm um risco muito maior de desenvolver câncer de
pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica do que em 1964, quando foi
divulgado o primeiro relatório produzido pelo governo americano sobre o
impacto do tabagismo na saúde.
Burns criticou a suspensão no Brasil da
resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que
proibia a adição de produtos que conferissem sabor para os cigarros.
"Companhias usam os aditivos para aumentar o número de vendas, para
atrair jovens e evitar que pessoas abandonem o tabagismo", disse.
Procurado, o Sindicato Interestadual da
Indústria do Tabaco (Sinditabaco) afirmou que não se manifesta sobre o
tema. Romeu Schneider, da Câmara Intersetorial do Tabaco, afirmou que
cigarros em todo o mundo estão mais fracos, com menores teores de
alcatrão e nicotina. "Estamos falando dos cigarros legais.
Nossa preocupação, no entanto, é o
crescimento do produto ilegal, produzido sem nenhum tipo de controle",
disse. Ele lembrou que a venda de cigarros a menores é proibida no
Brasil. "É uma regra acertada. Respeitamos. Se crianças têm acesso, é a
cigarro contrabandeado."
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário